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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Chuva de depressão: pra desanimar a volta às aulas!

  As férias são o momento ideal para pôr os neurônios pra funcionar e escrever algo decente. Mas infelizmente isso não aconteceu nas minhas. Tive o famoso bloqueio criativo ou falta de inspiração. Não que não quisesse escrever, mas tudo o que escrevia soava depressivo. O chato é que fico com a sensação de que poderia ter feito tanto, escrito tanto, discutido, refletido, mas fiquei muda na minha crise, pois sabia que qualquer palavra dita carregaria consigo toda a minha tristeza. Então, do nada no último dia de férias, me surgiu uma ideia louca de escrever uma crônica descrevendo o que foi as noites dos meus últimos quinze dias. Está bastante diferente, pra não dizer estranha, em primeira pessoa (coisa nunca feita antes) e com metáforas ainda mais "dramáticas". Apreciem:

Luz, 23:30

  Estação da Luz, plataforma um. Os trilhos são escuros e opacos como os meus pensamentos. Nem os minúsculos ratos aparecem para arrancar um sorriso bobo do meu rosto sem expressão. Embora já esteja tarde há algumas pessoas na plataforma, geralmente são os mesmos todos os dias, ainda sim é como se eu fosse a única pessoa. Camões disse em seu mais famoso poema: É solitário andar por entre a gente. Estava certo, enquanto o trem não chega, um momento de reflexão dolorida, e a conclusão de que estou sozinha. Sempre estive, mas nunca percebi.
  A frente, a plataforma central vazia, como a sensação que tenho dentro de mim. Os postes de iluminação tem as luminárias esféricas, são encantadoras bolinhas brancas.
Adiante, a plataforma tem alguns passageiros do fim do dia indo pro outro lado da cidade, nada muito diferente. Mas as paredes de tijolinho ao fundo convidam os olhos a buscarem aquela miniatura da estação em vidro, mas há sempre alguém cobrindo.
  Olho pro alto, finalmente vejo aquilo  que torna a estação tão famosa, a arquitetura do fim do século XIX. É lindo. Os portais com seus pequenos detalhes tão charmosos, ramos entrelaçados formando figuras simétricas, as paredes de de tijolo vermelho, a passarela marrom que já foi cenário de filme. Mas são as laterais, pequenas torres tão graciosas, com uma inscrição toda pomposa no topo, as letras SPR entrelaçadas. Queria um dia poder desenhá-las. São tão bonitas que me fazem esquecer das aflições, do século que vivo, da pessoa que sou.
  Mas isso é rápido, um instante e saio do sonho, me viro rapidamente e vejo o estranho relógio digital com seus números angulosos e vermelhos, tão seco, destoando completamente da estação, decepcionando quem vê o relógio da torre que aparece nos postais. Marca 23:30, hora de criança estar na cama. Mas estou aqui  olhando pro nada, ouvindo uma música deprimente e me remoendo nas  minhas amarguras. Quase sempre me culpando, amaldiçoando tudo que contribuiu para este estado caótico em que se encontra meu espírito. A ânsia de mudar, mas a incapacidade de agir.
  Lá vem o trem, estranha a sensação: não quero deixar a estação, por mais cansada, com fome e sono que esteja quero o acalanto da construção do auge do café ao banco gelado e os pensamentos ainda mais sombrios e melancólicos que a viagem de uma hora me proporcionará.




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